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21 de setembro: um dia para iluminar o Alzheimer

O dia 21 de setembro, instituído no Brasil pela Lei 11.736/2008, marca o Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer, coincidindo com o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, promovido pela Alzheimer’s Disease International.

Essa data foi escolhida para aumentar o conhecimento da população sobre os sinais precoces da doença, incentivar o acesso à orientação, apoio e diagnóstico e dar visibilidade aos cuidadores e à urgência da criação de políticas públicas de cuidado integral.

No Brasil, segundo a ABRAZ – Associação Brasileira de Alzheimer estima-se que existam mais de 1,2 milhão de pessoas com Alzheimer, muitas delas ainda sem diagnóstico oficial.

Dos 57 milhões de pessoas que vivem com demência no mundo, acredita-se que 60-70% tenham Alzheimer.

Com a expectativa de que o número de pessoas com demência aumente para 150 milhões até 2050 , a pressão é para encontrar uma solução para essa doença debilitante e devastadora.

Nos últimos anos, uma série de descobertas inovadoras relacionadas ao Alzheimer, em particular, trouxeram insights e esperança. Vamos entender melhor o assunto com o Dr. Guilherme Itiro Malta Shirakawa, psiquiatra e psicogeriatra do Hospital Santa Mônica.

O que é a doença de Alzheimer?

Segundo o Manual MSD revisado em junho de 2025, a doença de Alzheimer é caracterizada como “perda progressiva da função mental”, causada pela degeneração do tecido cerebral, incluindo a perda de células nervosas, o acúmulo de beta-amiloide e a formação de emaranhados neurofibrilares.

A doença de Alzheimer é uma das causas de demência, que é uma diminuição lenta e progressiva da função mental, que afeta a memória, o pensamento, o juízo e a capacidade para aprender. Para o diagnóstico, devemos avaliar se essa diminuição da função encontra-se maior do que o esperado para a idade do indivíduo, assim como deve ser observado que os prejuízos tragam um impacto na funcionalidade dele.

Em 60% a 80% dos adultos mais velhos com demência, a causa da demência é a doença de Alzheimer. É rara sua existência em pessoas com menos de 65 anos de idade. Torna-se mais comum com o aumento da idade.

O percentual de pessoas com doença de Alzheimer aumenta com a idade:

  • 65 a 74 anos: 5%
  • 75 a 84 anos: 13%
  • 85 ou mais: 33%

A doença de Alzheimer afeta mais as mulheres do que os homens, em parte porque as mulheres vivem mais. Há uma previsão de aumento significativo no número de pessoas com a doença de Alzheimer, conforme aumenta a proporção de adultos mais velhos.

O principal fator de proteção é a educação, quanto maior a escolaridade e atuação em trabalhos de maior complexidade, maior a reserva cognitiva do indivíduo, com maior proteção para a doença.

Sinais e sintomas

  • Esquecimento recente, como perguntas repetidas, perda de objetos e esquecimento de compromissos.
  • Comprometimento global das funções cognitivas:
    • Raciocínio debilitado e dificuldade com tarefas complexas ou julgamento (como gestão financeira).
    • Problemas de linguagem (dificuldade para encontrar palavras comuns ou erros ao falar/escrever).
    • Disfunção visuoespacial (dificuldade em reconhecer rostos/objetos)
  • Sintomas comportamentais, como agitação, perambulação, gritos ou delírios.
  • A evolução dos sintomas é gradual, podendo estabilizar por estágios da progressão, conforme o Ministério da Saúde:
  • Estágio inicial: alterações na memória, na personalidade, habilidades visuoespaciais, com prejuízo nas atividades mais complexas da rotina, como lidar com dinheiro.
  • Estágio moderado: dificuldade para realizar tarefas mais básicas da vida diária, como a escolha de roupas, dificuldades para autocuidados, realizar tarefas simples, agitação, insônia.
  • Estágio grave: dependência de ajuda para as atividades básicas, com incontinência urinária/fecal, dificuldade para comer.

Diagnóstico

A abordagem diagnóstica combina:

  • Avaliação clínica detalhada, exame físico e testes cognitivos (como o Mini-Exame do Estado Mental).
  • Exames de sangue para descartar causas tratáveis.
  • Biomarcadores — como beta-amiloide e tau no líquido cefalorraquidiano (LCR), PET com compostos específicos ou ressonância magnética — são indicados para definição diagnóstica e são considerados em contextos específicos, mas nem todos são recomendados rotineiramente por limitações de disponibilidade e padronização.
  • A confirmação definitiva ocorre apenas por meio de exame histopatológico post mortem.

Tratamentos e medicações

Dr. Guilherme reforça que embora não exista cura, há intervenções que retardam o avanço e promovem melhor qualidade de vida:

Tratamentos não farmacológicos

  • Criação de rotinas, segurança ambiental, explicação clara sobre mudanças no ambiente e cuidados, propiciando orientação, estabilidade e conforto emocional.
  • A dieta do Mediterrâneo tem evidências de que protege a saúde cognitiva dos pacientes.
  • Realização de atividade física regular, respeitando as limitações de cada indivíduo, tem efeito neuroprotetor.
  • Realização de atividades de estimulação cognitiva, com auxílio de neuropsicólogos, fisioterapia ou terapia ocupacional, assim como estimular a socialização tem um impacto positivo na prevenção e a retardar a progressão da doença

Medicamentos disponíveis

  • Inibidores de colinesterase (donepezila, galantamina, rivastigmina): aumentam os níveis de acetilcolina, podendo melhorar funções cognitivas temporariamente, especialmente em casos leves a moderados. Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, dor abdominal, perda de peso.
  • Memantina: útil em estágios moderado a grave, frequentemente em combinação com inibidores de colinesterase para melhores resultados.
  • Anticorpos monoclonais anti-amiloide, como lecanemabe e donanemabe, sendo o último aprovado este ano pela ANVISA, aplicados por infusão intravenosa a cada 2 a 4 semanas, podem retardar a progressão ao remover placas amiloides
  • Medicamentos para pressão alta e colesterol podem prevenir agravamentos relacionados à demência vascular.
  • Antidepressivos como ISRSs e Trazodona podem ser utilizados para sintomas depressivos persistentes, assim como para quadros de alterações comportamentais.
  • Antipsicóticos devem ser usados com cautela e apenas quando necessário, já que apresentam risco maior de efeitos adversos, sendo a Risperidona e o Brexpiprazol os com aprovação para agitação em demências.

Nos últimos anos, houve avanços significativos com novos medicamentos mais específicos:

  • Os anticorpos antiamiloide donanemab e lecanemab têm sido aprovados (nos EUA e outros países) e podem retardar a progressão da doença em estágios iniciais (World Economic Forum). Mas a indicação dessas medicações deve ser realizada com cautela, por profissional habilitado, por apresentarem risco de efeitos adversos potencialmente graves.
  • E avanços em testes sanguíneos, com dosagem de biomarcadores no sangue, apresentam uma possibilidade de realizar o diagnóstico de forma menos invasiva e com maior precisão.

Inovações na detecção com IA e neuroimagem

A inteligência artificial (IA) aplicada à neuroimagem revela-se uma poderosa aliada para previsão e diagnóstico precoce:

  • Estudos mostram que técnicas de IA treinadas com ressonância magnética (MRI) e PET podem classificar Alzheimer ou prever progressão de comprometimento cognitivo leve com alta acurácia.
  • Contudo, desafios como padronização dos dados, interpretabilidade dos modelos e integração clínica ainda precisam ser resolvidos.

Dicas essenciais para cuidadores

  • Cuidado contínuo e multidisciplinar: planejamento antecipado para cuidados de longo prazo com equipe médica, assistência social, jurídica e terapia ocupacional
  • Apoio emocional e cuidados pessoais: o desgaste físico e mental é real. Buscar suporte é fundamental para evitar o estresse do cuidador.
  • Ambiente adaptado e rotina estruturada: rotinas diárias previsíveis ajudam na orientação e bem-estar.

O dia 21 de setembro nos convida a olhar com urgência e humanidade para o Alzheimer: uma condição em que os avanços científicos — de tratamentos inovadores a estratégias de detecção precoce e apoio ao cuidador — caminham lado a lado com a necessidade de informação clara, de políticas públicas eficazes e de redes de suporte integradas.

Que esta data nos inspire a cuidar, aprender e lutar por uma vida mais digna para as pessoas com Alzheimer e suas famílias.

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