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Saúde mental impacta o desenvolvimento da América Latina

A depressão é o transtorno mental mais comum em todo o mundo. Na América Latina, 5% da população adulta sofre da doença, mas, segundo a Organização Mundial da Saúde, OMS, a maioria não busca e nem recebe tratamento. Nos casos mais graves, a depressão pode levar ao suicídio; estima-se que cerca de 63 mil pessoas se suicidam a cada ano nas Américas.

Quando o sofrimento é mais leve, também pode afetar o cotidiano, o trabalho e as relações pessoais. Para dar uma ideia da dimensão do problema, os transtornos mentais e neurológicos representam quase um quarto da carga das doenças na América Latina e no Caribe. Esses problemas abrangem desde a depressão e a ansiedade até o transtorno bipolar.

“Essas doenças causam impacto sobre o dia a dia das pessoas – desde o trabalho até qualquer atividade cognitiva, o estudo, atividades familiares, atividades sociais”, disse o Dr. José Miguel Uribe, psiquiatra e consultor do Banco Mundial. A saúde mental inadequada também afeta mais aos pobres, agravando o círculo vicioso da desigualdade nos países latino-americanos. “Existe uma relação clara entre a condição de vida e os transtornos mentais comuns”, explica Paulo Rossi Menezes, professor do Departamento de Medicina Preventiva da USP.

Os pobres não apenas correm risco maior de sofrer de um transtorno mental como a depressão, pelo fato de enfrentarem mais dificuldades na vida, como também têm menos acesso a um atendimento adequado. Apesar disso, segundo a OMS, menos de 2% do orçamento de saúde na região se destina à saúde mental. E em todas as regiões do mundo, a parcela de recursos destinada a essa finalidade é insuficiente para cobrir as necessidades básicas, segundo José Miguel Uribe.

Por isso o Banco Mundial, cuja finalidade principal é fomentar o desenvolvimento econômico e o combate à pobreza, quer incluir o tema da saúde mental como elemento importante na agenda de desenvolvimento e prioridades das autoridades econômicas e de saúde de seus países membros. De acordo com Uribe, vários problemas contribuem para fazer com que seja difícil dedicar a atenção adequada à saúde mental.

O primeiro é o estigma que cerca os transtornos mentais, fazendo com que as pessoas frequentemente hesitem em buscar ajuda, porque têm vergonha ou ideias preconcebidas sobre como são os tratamentos. Isso pode se dever em parte a uma falta de informações. “As pessoas não têm informações e isso contribui para as barreiras ao atendimento”, observa o professor Paulo Rossi Menezes. “As pessoas não sabem que aquilo que sentem pode ser o que chamamos de depressão. Ou, se reconhecem que têm depressão, não acham fácil dizer isso às outras pessoas”, diz ele. Por outro lado, as pessoas com transtornos mentais foram discriminadas historicamente e apenas recentemente estão podendo ter um papel mais visível e lutar por seus direitos à saúde e à inclusão social.

“Precisamos dar normalidade também aos pacientes de saúde mental”, opina Nieves Domínguez González, médica e cirurgiã da Universidade de Santiago de Compostela e ex-gerente do Serviço Galego de Saúde. “É preciso ensinar à população que esses pacientes podem levar uma vida normal, com determinadas circunstâncias”.A especialista espanhola conta que na Galícia, por exemplo, o cinema foi usado como ferramenta: no final de um filme ligado a transtornos mentais, um especialista falava com o público.

 

Reforçar o atendimento primário

 

As organizações internacionais propõem algumas estratégias para enfrentar o problema. “Reforçar o atendimento primário de saúde e de saúde mental”, diz Uribe. Isso significa atendimento perto das pessoas, nas comunidades, mas também quer dizer que os profissionais médicos gerais sejam capacitados para reconhecer transtornos mentais. “Muitos dos problemas comuns de saúde mental podem ser resolvidos por uma equipe de atendimento primário”.

Também é importante uma coordenação boa entre os médicos de atendimento primário e os especialistas, para que casos mais complexos sejam encaminhados ao especialista adequado. As coisas já estão mudando em alguns países da América Latina. No Brasil, por exemplo, se 20 ou 30 anos atrás a estratégia visava principalmente os transtornos mentais graves e os pacientes em hospitais psiquiátricos, agora ela foi ampliada, explica Menezes. “Houve uma mudança muito grande na política de saúde mental do país”, ele explica. “Hoje nossa política de saúde mental não se baseia nos hospitais, mas em centros de atendimento psicossocial e na integração da saúde mental ao atendimento primário e geral”.

Embora ainda existam muitas dificuldades a ser enfrentadas, segundo o especialista, também estão sendo feitos esforços para abrir o acesso aos serviços de saúde mental a um número grande de pessoas que podem sofrer de transtornos mentais mais leves, como, na maioria dos casos, a depressão. Os especialistas dizem que o objetivo é aprimorar o atendimento à saúde mental na região, para que cada vez mais latino-americanos tenham a possibilidade de derrotar esse cão preto que acompanha muitos deles em todo lugar.

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