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Guerra silenciosa

O crack avança por todas as regiões do Estado de São Paulo e faz do enfrentamento ao problema um dos principais desafios para pequenas e médias cidades. A reportagem sobre esta situação dramática foi publicada pela Agência Estado e também pelo Cruzeiro do Sul em sua edição de ontem na página A8. Mapeamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), atualizado em tempo real pelas prefeituras, mostra que 194 cidades paulistas detectaram ter alto nível de problema decorrente do consumo de crack – quase um terço dos 645 municípios do Estado.

O crack virou praga nas estâncias minerais de Águas de Lindóia e Serra Negra, no reduto turístico de Ilhabela, em Campos do Jordão, Ibitinga, Monte Alegre e Louveira. Estas cidades estão citadas na reportagem, mas sabemos que a droga afeta outros municípios, inclusive Sorocaba. A situação chegou a tal ponto que a Câmara de Sorocaba criou uma Comissão Especial de Dependência Química composta de cinco vereadores: Rodrigo Manga (PP), Luís Santos (PROS), Pastor Apolo (PSB), Saulo do Afro Art.s (PRP) e José Crespo (DEM). Na reportagem, depoimentos de dois viciados no crack dão ideia da dimensão do problema. Um deles, em local de consumo da droga, diz: -Comprei 20 gramas de crack. Estou aqui faz cinco dias, virado (sem dormir.) E outro: -Fui gerente de grande empresa, andei em carrão e hoje não tenho nada. A guerra contra as drogas é travada em diversas frentes, que passam por medidas do Estado, da União e dos municípios nas ações preventivas e de punição no combate às drogas. Nos municípios, uma das atitudes é disponibilizar estrutura para internação de dependentes químicos.

O presidente da Comissão de Dependência Química da Câmara, vereador Rodrigo Manga, informa que passam de mil os dependentes químicos que frequentam as minicracolândias da cidade. Ele avalia que, em relação à região, Sorocaba está em situação melhor na estrutura de atendimento aos dependentes, embora ela seja insuficiente, e estamos numa situação em que, na sua visão, -ainda há tempo para agir-. A cidade conta com dois Centros de Ação Psicossocial Álcool e Drogas (Caps), sendo um no centro e outro na zona norte. Um deles, chamado Caps AD III, foi programado para funcionar 24 horas mas o horário de atendimento é das 7h às 19h. O Ministério da Saúde recomenda que a cada 150 mil habitantes o município tenha um AD III. O problema é que Estado e União não se entendem na questão do modelo de tratamento. Enquanto o governo do Estado defende a internação de dependentes por meio dos Caps, a política nacional é contra a internação.

A Comissão de Dependência Química da Câmara defende a posição de que a internação ocorra somente nos casos extremos em que o dependente abandona a família e o emprego e perde a noção da realidade. Nesses casos, a internação, segundo a Comissão de Dependência Química, tem que ser de 30 a 45 dias para que haja desintoxicação e a partir desse período o dependente possa optar por internação voluntária. A Comissão de Dependência Química também informa que em Sorocaba os responsáveis pelo setor de saúde se preparam para disponibilizar, neste mês, 16 leitos na Santa Casa e oito leitos no Hospital Regional para programa de desintoxicação. O período é pouco, na avaliação da Comissão, mas ela admite que também é um grande ganho.

Todas as iniciativas que têm o objetivo de combater o crack e outras drogas, seja nos campos da prevenção, da punição aos criminosos do tráfico de drogas e no atendimento aos dependentes químicos para que se livrem desse pesadelo, têm que ser incentivadas. O benefício é geral, a começar pelos dependentes e seus familiares e também toda a população. As drogas se apresentam como origem de muitos crimes. Na medida em que as ações de combate começarem a ganhar a guerra, o reflexo é direto nas áreas de segurança e de saúde. Que as autoridades públicas tenham sabedoria para vencer esta difícil guerra social.

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